sexta-feira, 13 de novembro de 2015

QUANTO VALE?


Quanto vale?
O rio,
A mata,
A gente,
O vale.
Tudo isso custa grana.
Vale?
Seu dinheiro vale lama.

Quanto vale seu apreço?
Seu preço enlamaçado.
Se vocês acham que eu rio doce,
Errado,
É choro amargo.

Papel-moeda versus papel poesia.
Papel-moeda versus papel protesto.
Mas eu atesto:
Quando faltar árvore para fazer papel
Vão fazer sangue de moeda.
Mas já não vale?
Passo o chapéu.


terça-feira, 20 de outubro de 2015

TRAMA DO TEMPO.

eu trepo na trama do tempo.
a trama do tempo me amarra.
o tempo extrapola
as caixas de tempo.
são caixas do homem.
o tempo sem caixa
me atravessa,
me fraciona
e me deixa grão.
em movimento
na ampulheta,
pedaço de tempo:
momento
por momento,
retalho na saia de Cronos.
o ônus do tempo
é o ônus da gente
que acha que o tempo tem dono.
fia tempo!
filamento por filamento,
eu subo essa grade.
a grade do tempo me agarra,
eu trepo na trama do tempo.
a trama do tempo me amarra.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

AMIGO


Quando o peito aperta
Eu preciso d'outro aperto
Do aperto de dois braços
Eu preciso de um abraço

Quando a cabeça seca 
Eu preciso de um arado
Do arado de seus dedos
De um cafuné bem dado

Quando eu for ruir
Uma coluna pro meu torto
O meu naufrágio quer um porto
Uma palavra de conforto

Mas pra dividir o peso
Do meu planeta-umbigo
Um Atlas do meu lado
Eu preciso de um amigo

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

ACIDENTE NA ESTRADA


A pressa atropelou o sentimento
Deitado, morto no acostamento
Cheiro de carniça no vento
Visão da secura, carcaça
Me reviva, nem que seja um tormento
Semimorto, zumbificado
Me reviva, nem que seja uma mentira
Que me tira da rotina
Semiárido, zumbido chato.

Fogo no mato seco
Batida de carro
Animal na estrada
Qualquer lance
Nuance
Desvio.

domingo, 23 de agosto de 2015

AM(ARTE)


Amar-te 
É arte
Rara
É a arte que me importa.
Tua arte
Abre as portas
Que meu peito não suporta.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

(CIC)ATRIZES

(cic)atrizes
nas suas marcas.
a dor é só mais uma fala
o amor, uma cena
a morte, cortinas fechadas.
uma peça barata
um teatro acabado 
mais um ano
um ato
peça sem diretor.
ator de mim mesmo
atrás do fio da meada
de um bom roteiro.
companhia do eu sozinho.
esqueçam os textos
os ensaios
os comandos:
a vida é um teatro
que se faz nos improvisos.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

FLORES DE MARIA


Debaixo do braço
Nos suvacos da menina
Lhe disseram crescer umas ervas daninhas.
A menina danou-se
E disse que não.
Lhe mandaram
Com lâminas em riste
De tempos em tempos
Num ritual triste
Desflorescer.
A menina
Que queria só ser
Bateu o pé
E repetiu que não.
Entre olhares 
E dizeres
Viram as plantas 
Crescer a cada dia
E num momento desses
Ouviram um cantarolar:
Ninguém corta minhas Flores de Maria.

sábado, 8 de agosto de 2015

GAROTO ESPACIAL


Garoto espacial
No mar de si mesmo
Solidão sideral
Garoto especial
É noite e é frio
E o sono vem
Mas dormir é pra quem
É forte de mais
E se não acordar mais?⁠⁠⁠⁠

quinta-feira, 30 de julho de 2015

ÓCULOS DE PRISMA


Cansado da ótica econômica
Comprei um óculos de prisma
E quando vi no preto e branco
Um espectro de cores infinitas
E vi em certos carismas
O sibilar de cobras malditas
E vi em certos demônios
A expressão de crianças aflitas
E vi o grito dos afônicos
O mal-estar crônico 
E o humano-biônico

Ceguei-me

A mente que muito sabe
Já disse o sábio
É mente aflita.

terça-feira, 21 de julho de 2015

NAS CURVAS


nas curvas da arquitetura reta,
nas curvas da cidade turva,
anda a turba desordenada.
e na ordem do nada que guia,
que liga os pontos e as partes,
o cristal apagado ilumina
e revela o desenho-desastre.

abstrato.
será arte?


terça-feira, 14 de julho de 2015

TRISTEZA

Tristeza é meditação
Máquina de moer grão
Tristeza é imensidão
Tristeza é mar azul

Tristeza não é em vão
Tristeza é limpeza à mão
Tristeza é poesia
Poema sem rima de ão

Tristeza é a beleza
Da certeza
Da espera
Do inverno
Pela dona
Primavera

quinta-feira, 9 de julho de 2015

AMARES

Amar é a mora ou a multa?
Amar é amora ou veneno?
Amar é marola ou tormento?
Nos bancos, nos campos,
Nos mares:
Só respiro ares de amares.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

PREFIRO SER PESSOA

Prefiro ser Pessoa a ser humano
amor em hipótese
a dor em teoria
alegria e melancolia escritas
pra quê sentir em carne
quando se pode em papel carta
os beijos mais doces a mente que cria
e quantos amores criados vivi
prefiro ser Platão a Cupido
ridículo, estupido
prefiro ser carta de amor
ser palavras escritas em sentimentos alheios
tão alheios que pousam em fundo o seio.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

CORA E O MARINHEIRO


O cara
a fim de Cora
escora o querer
tão claro que aflora.
Sozinhos na casa
covarde, treme
o toque, carinho
calados conversam
mas escondem.
A cara cora
mas mascara
o coração escancara
e pulsa.
Um beijo no rosto de Cora,
um beijo na boca de Cora,
o coração ancora.
E o marinheiro que antes chora
acha nela terra à vista
a resposta da pista na garrafa.

terça-feira, 19 de maio de 2015

PESCADOR


Afoguei-me num pedaço de mar
Fruto do diário labor
Afoguei-me num pedaço de amar
no fisgar de um peixe, amor
mas subo e volto a pescar
pesca eterna
pesca dor.

sexta-feira, 27 de março de 2015

NARIZ DE COGUMELO


Como você quer que eu entenda,
Se poesia é espelho?
E meu nariz de cogumelo
- Sem dizer se é bonito ou feio -
Nunca vai ser nariz de princesa,
E a luz que bate agora
Não bate a mesma
Às doze e meia.

quarta-feira, 25 de março de 2015

NERVOS Ó FLOR DA PELE


Nervos à flor da pele
Nervos ó flor da pele
Abraço, amasso
Te laço
Te sinto na derme 
Me impele!
Me queres?
Me toque, te toco
Me toco
Num coro de nervos explodo
Coro
Tecidos elétricos
Afagos e fluídos
Amores mútuos
Gritos mudos
Traços, relapsos
Te traço
Sinapse
Ápice.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

QUEBRA-CABEÇA INCOMPLETO


conheço bem alguns trechos
monto meu quebra-cabeça incompleto
conto as manchas do teto
procuro forma nas manchas do teto

encontro estranhos no espelho
me espelho em estranhos completos
sou nada, sou o universo
poeira de estrelas solvida em complexos

deito em forma de feto
sinfonia de um só, sem nexo
só nada, só poesia ou só sexo
me quebra-cabeça, incompleto

TONELADA DE ALGODÃO

Dente-de-leão
Mordida que faz cosquinha,
Pé a pé eu dou meu passo,
Pé de mesa,
Pé de pato,
Sem pedir muito, não.
Só peço que não me olhe
Com os olhos da rua,
Que eu tô na sua,
E a saudade pesa tal
Qual tonelada de algodão.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

CENA

No palco
No palanque
Debaixo das cobertas
Toda mentira é meia verdade
Toda verdade é meio incerta