faço troça, entorto o traço
destrato a troco de nada
imprimo o extrato
inadimplente
de cara limpa
sem cara amassada
cara e coroa
descaradamente
duas caras
sem ímã, sem polo, sem norte
desfaço o que disse
contradigo
sou desses
sou o inverso do que quiseram
seus deuses
sem dívida
direção
dobro a posta
jogo a moeda
desoriento
e trapaço
descompasso moral sem
embaraço
a realidade se impõe
tratora
acordo com sol cá dentro
levanto com chuva lá fora
narro e costuro
me agarro na história
desfia, puída
na força do tempo
mandala de areia
desfeita no vento
sustento no peso inconstante do agora
nem dito, nem feito
dito, mas não feito
premedito
aquilo em que me gasto
mais antes que durante
círculo maldito
naquilo em que me arrasto
me torturo a prazo
me adio
me alongo e me contraio
me desgasto
na medida em que degusto
o gosto da angústia
ácido, azedo, amargo
fico atrás do traço
ando atrás, parado
na esteira, no projeto
me desfaço num cansaço
penso, penso, penso
mas não faço
